Esta história é aquele tipo de história que se você lê uma descrição a respeito dela antes de ler o texto propriamente dito, você acaba desejando que não tivesse lido nada. Acredite, estou lhe fazendo um favor.
Convido você a participar desta história.
A curiosa história do belíssimo personagem Miles
Era mais uma tarde na vida
de Albert.
Sua esposa havia saído com
as crianças, e ele estava relaxando em um domingo de sol, enquanto pensava em
como a vida era boa. Não tinha grandes preocupações, tinha um emprego estável e
um salário bom. Seus filhos frequentavam a escola primária e tiravam boas notas.
Albert olhava pela janela enquanto pensava “Que voz é essa e por que diabos ela
está falando da minha vida?!”.
...
Albert estava se sentindo
subitamente incomodado, por algum motivo desconhecido. Como era de seu costume,
ele decidiu pegar uma cerveja na geladeira e pensar menos nas coisas que
poderiam lhe incomodar: este era o segredo para uma boa vida.
Ao sentar-se em sua
poltrona preferida, lhe ocorreu novamente aquele pensamento estranho: “Essa voz
está dizendo tudo que acontece comigo, antes mesmo de acontecer! Mas que diabos
é isso?!”.
Albert terminou sua
primeira cerveja e olhou para o relógio.
“Eu não quero olhar para o
relógio”
Ele notou que ainda eram
duas da tarde, sua mulher e seus filhos ainda iriam demorar um bom tempo. Ele
começava a sentir falta deles.
“Mas não exatamente” ele
pensou. Mas lá no fundo ele sabia que sentia falta daquele tempo em que seus
filhos mal falavam, e viviam a sorrir para o pai... “E das fraldas sujas e noites
mal dormidas, com certeza. Não, eu não sinto falta.”
Mas ele sentia.
“Não, já disse que não! Eu
estou ficando doido ou estou ouvindo vozes...”
Albert imaginava coisas.
Seus pensamentos o estavam perturbando e ele nem sabia mesmo o porquê.
- Tem alguém aí?! – Ele perguntou
com um certo tom de desespero na voz.
Albert se sentia meio
maluco por estar falando sozinho, mas decidiu que era melhor parar de pensar nessas vozes em sua cabeça,
e apenas seguir seus pensamentos.
- Quem diabos você pensa
que é pra me dizer o que fazer?? – Albert gritou repentinamente. Você ta
fazendo o que aqui dentro da minha cabeça, seu filho do capiroto?!
Albert percebeu que algo
estava diferente, mas pensava que talvez fosse melhor ignorar estes pensamentos
malucos. Lembrava-se da história daquele primo que teve que ser internado...
- Eu não tenho primos,
meus pais não tinham irmãos. Quem é você?! – Albert voltou a indagar. Eu não
vou fazer o que você manda mais, espero que tenha percebido!
Albert percebeu que algo
não estava certo.
- Claro que eu percebi!
Não é sempre que uma voz começa a falar na sua cabeça, não é mesmo?
Ele começava a dar sentido
em toda aquela situação, por mais estranha que fosse.
- Você ainda não me
respondeu, quem diabos é você? – Perguntou com o tom de voz mais ameno, embora
ainda estivesse nervoso com aquela situação incomum.
Ele imaginava vozes em sua
cabeça, e se indagava a quem elas pertenciam. Em casos comuns, na vida real, as
pessoas imaginariam que a voz pertence à elas mesmas.
- Mas essa voz não é
minha! Nem mesmo soa como eu, ora essa!! – Ele se esforçava para tentar
encontrar sentido naquela voz misteriosa.
- Realmente não faz
sentido isso tudo! Na vida real as pessoas pensariam diferente? Isso não faz
sentido, isso aqui É a vida real!
E então Albert subitamente
percebeu, que apesar de seus esforços em vão, a grande verdade era que a voz
não lhe pertencia, mas ele que pertencia a voz. E isto explicava porque a voz o
comandava e sabia o que iria acontecer, antes mesmo de acontecer.
- Caramba... eu pertenço a
você e isso aqui não é a vida real? Isso não faz sentido... mas por ter ouvido
isso vindo de você, se torna totalmente cabível – nosso amigo estava incrédulo.
Mas agora começava a se acalmar e entender o sentido disto tudo. Ele percebeu
que se não era uma história de verdade, só poderia ser...
- Uma história! É isso? –
indagou nosso amigo.
Ele se tornava mais
perceptível de seu universo a cada momento, com cada pista que a voz em sua
mente lhe dava.
- Pistas... Você disse “nosso
amigo” de novo. Tem mais alguém aqui??
A voz parecia estar se divertindo
com tudo isso. Era quase como se Albert pudesse vê-la sorrindo diante dele.
- Você está criando a
minha história então... Eu sou um personagem criado pela mente doentia de
alguém completamente sem imaginação! Socorro! – ele se levantou e começou a
correr em círculos, desesperadamente.
Albert se tornava cada vez
mais esperto, e ao mesmo tempo mal agradecido. Ele desenvolveu uma péssima
maneira de demonstrar gratidão à seu criador.
- Criador sem imaginação!
Não merece minha gratidão! Qual meu sobrenome? Com o que eu trabalho? – suas indagações
só aumentavam.
O que ele não percebia era
que em uma história, nem todos os detalhes precisam ser contados.
- Porque não foram
pensados, isso sim! Eu sou um personagem de merda, em uma história de merda!
Deus me ajude.
Mas não havia Deus naquela
história. Apenas o deus de Albert, o seu criador. E o seu criador o criou
completamente, embora tanto Albert quanto o terceiro integrante desta história
não soubessem disso.
- Então tem mais alguém
aqui! Cadê ele?! – ele perguntou já sem esperanças que a pergunta fosse mesmo
ser respondida.
Albert trabalhava com a
venda de seguros na mesma empresa por mais de 10 anos, e sua família, os Kelloggs,
era composta por Jamie e John, seus filhos, e sua adorável esposa Susan, que
haviam saído de casa, deixando Albert sozinho em mais um domingo.
- Seguros?! Kelloggs?? Da
onde você tirou esse nome, de uma caixa de cereal? Tenha dó... – sua indignação
era tanta, mas não havia nada que pudesse ser feito. Ele era limitado à seu
criador, e à história que havia sido criada para ele.
- Por que? – perguntou repentinamente,
deixando a voz surpresa.
- Porque você não muda
essa história sem graça aí? – Albert Kelloggs se mostrava ser um personagem
astuto e inovador.
E era realmente uma boa
questão. Por que não? Mas embora a dúvida surgisse, Albert ainda tinha seu
emprego e sua família, e eles já estavam para chegar em casa...
- Assim como o relógio
ainda marca duas da tarde.
O senhor Kelloggs acabara
de perceber que seu relógio de parede estava quebrado.
- Consegue dar uma
desculpa assim tão rápido mas não consegue criar uma história melhor? E que
história é essa de senhor? Eu nunca pedi pra ser velho!
Na realidade Albert nunca
tinha pedido nada. Nunca havia pedido nem ao mesmo para existir. Ele só...
existia. E era controlado por essa voz, que lhe dizia o que fazer e como
agir... Este criador que ao inventar nosso amigo, não considerava que Albert
poderia se tornar um personagem tão independente.
- Me deixe criar minha
história! Como em um sonho em que você percebe que está dormindo, mas não
acorda! – Albert sentiu-se genial. Aquilo era simplesmente fantástico. Só havia
um problema...
Albert acertara em pensar
que não tiver o melhor dos criadores. Este era preguiçoso e nem um pouco
criativo, como se pôde perceber na história rotineira e na ausência de elementos
básicos como a descrição do cenário.
- Não precisa se culpar,
eu te ajudo. Basta me ouvir e escrever minha história, ok? – Albert parecia
esperançoso, mas ainda não havia percebido que havia um motivo para sua
história ser tão sem detalhes, e que não era apenas devido à falta de
criatividade de seu criador.
Albert Kelloggs estava num
conto.
- Mas... eu não quero
acordar ainda, acabei de perceber que isso é uma história e eu posso sonhar o
que quiser dentro dela que se tornará realidade! Me dê mulheres, dinheiro,
bebidas! – disse Albert entrando em desespero, se lembrando de ter visto mais
algumas cervejas em sua geladeira.
Mas seu pedido era
impossível. Uma das características de um conto é que ele deve ser curto, e as
linhas desta história já estavam por terminar. E a cada fala de Albert, essas
linhas ocupavam mais e mais espaço, impossibilitando ainda mais a criação de
mais elementos para a história.
Todo sonho em que se
desperta a consciência, termina abruptamente.
- Então pare de divagar e
me ajude! É minha única chance! Essa vai ser minha única história, não vai?
Ele percebe que sim.
- E eu nem gosto do meu
próprio nome! Eu não sou um personagem carismático, ninguém vai se identificar
comigo! Por isso não haverá mais histórias comigo! – Ele se lamenta.
- Quem é o terceiro integrante
desta história?
E assim que perguntou,
Albert quase que pode ver, além da voz em sua cabeça, um enorme par de olhos
que brilhavam o observando de cima. E assim terminou a história de Albert.
- Não! Espera! – disse ele,
deixando seu criador confuso.
A voz em sua cabeça agora
soava aborrecida, por havia acabado de desperdiçar um ótimo final para a
história de Albert.
- Eu não quero ser Albert.
Albert é um nome ruim! Muda pelo menos meu nome.
Albert não queria mais se
chamar Albert. Isso era absurdo.
- Deixa eu pensar... tem
um nome do qual eu sempre gostei.
Mas esta história já havia
passado os limites de absurda. Num momento desses, Albert até que merecia
morrer com um pouco de dignidade. Então Albert decidiu seu novo nome:
- Miles! E sem o nome de cereal
no final, ok? Só Miles já está bom pra mim.
Então Albert finalmente...
Miles finalmente conseguiu o que queria, e estava pronto para partir de uma vez
por todas.
- Espera! – gritou mais
uma vez.
Novamente, Miles havia
estragado um bom final para um conto.
- Qual o nome da minha
história? Eu preciso saber! – perguntou, curioso.
Os títulos deveriam sempre
ser criados após a história estar finalizada. Mas nem sempre é isso o que
acontece. Então Miles soube que o título de sua história deveria ser A vida cotidiana de Albert Kellogs.
- Que horrível.
E neste momento seu criador foi obrigado a
concordar com a criação. Ele percebeu que sem a personalidade de Miles, esta
história teria sido um completo fracasso. Mas o terceiro integrante parece
estar gostando do que viu até agora.
- A curiosa história do
personagem Miles. Que tal? – sugeriu Miles.
E foi uma excelente sugestão.
O próprio criador não poderia ter inventado algo melhor. Mas Miles acabou se
tornando um personagem carismático, que merecia algo mais antes de seu fim.
Miles deveria escolher um adjetivo que lhe agradasse, com a condição de que não
poderia se demorar, pois em apenas algumas linhas o limite seria alcançado e
tudo estaria terminado.
- Caramba, que repentino!
Me dá mais umas linhas!!! – mas aquilo já não era mais possível. A história já
estava sendo escrita sem troca de parágrafo. – Eu não sei! Talvez... O bonito
Miles! – e ao dizer isso ele já percebeu q ñ havia nd poético naquilo. E
ao msm tempo ele viu q seu limit stava no fim, e dvria confiar na criativdd d
seu criador, pq ele qm inventou até msm as criacoes do MilesFim. Escrito
por Paulo Matos
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